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Se os duplíca e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve ás borrascas de ludibrio e escarneo?
Póde o raio n’um pincaro cahindo,
Tornal-o dois, e o mar correr entre ambos;
Póde rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Signaes mostrando da alliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separão, morrem;
Ou se entre o proprio estrago inda vegetão,
Se apparencia de vida, em mal, conservão;
Ancias crúas resumem do proscripto,
Que busca achar no berço a sepultura!

Esse, que sobrevive à propria ruina,
Ao seo viver do coração, — ás gratas
Illusões, quando em leito solitario,
Entre as sombras da noite, em larga insomnia,
Devaneiando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que á dôr tamanha não succumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seos o desejado termo!




A MORTE É VARIA.
(TRADUCÇÃO.)


A morte é vária e multiforme, e múda
De trajes e de mascaras mais vezes
      Qu’uma cançada actriz;
Nem sempre é, qual se pinta, o negro espectro
D’ironico sorriso e brancos dentes,
      E d’horrido nariz.