ptisados de velha.» A alcoviteira ficou desesperada com o papagaio, e disse ás criadas que o botassem lá para o terreiro. Ellas o botaram, mas elle gritou tanto, até que o trouxeram de novo.

No outro dia veio a velha outra vez para levar a moça para o baptisado.

A princeza se preparou, e, quando ia sahindo, passou por baixo da gaiola do papagaio, que deu uma gargalhada: «Como vae princeza, minha senhora, tão bandarranona! Princeza, minha senhora, quer ouvir uma historia do seu papagaio?» — «Pois não, meu papagaio!» — «Oh, criadas, vão buscar a cadeira e a almofada para princeza minha senhora se sentar, se recostar para ouvir uma historia do seu papagaio.» Elle começou:

«Uma vez havia n'uma cidade dous ourives: o ourives do ouro e o ourives da prata. O ourives do ouro era casado e sua mulher muito bonita, nunca apparecia na janella. — Tendo elle de fazer uma viagem, apostou com o ourives da prata que elle não era capaz de vêr nunca a sua mulher, e se não fosse verdade perderia todo o seu ouro; e se o ourives da prata perdesse tinha de lhe dar toda a sua prata. Feita a aposta, o ourives do ouro seguiu para sua viagem.

Foram-se passando os dias e nunca o ourives da prata pôde vêr a mulher do companheiro. Estava vendo perder a aposta, quando, indo uma velha lhe pedir uma esmola, e o vendo triste lhe perguntou o que era, e lhe contou o caso. A velha lhe disse: «Oh! chente, meu netinho, não é nada; eu vou passar esta noite na casa d'ella, e tomo-lhe bem as feições, vejo-lhe bem até os signaes de seu corpo e lhe venho contar.» O ourives aceitou. Quando foi de noite a velha bateu na porta da mulher do ourives do ouro. Vieram-lhe abrir a porta, e ella disse que queria fallar a sua filhinha que ella tinha creado em seus braços. A moça ficou muito