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escaparem; e como as amostrassem aos mouros que vinham arrecadar o tributo, dizendo: — Que não podiam ir por estarem mancas, — elles responderam, que:

— Assi mancas as queriam.

Mas o povo compadecido de tanta virtude, arremetteu tumultuariamente contra os Mouros e mortos de mão commum, foram as donzellas póstas em liberdade, deixando por nome á villa a resposta que deram aos barbaros: Si mancas as queremos, e por armas as mãos cortadas das donzellas.

(Fr. Bernardo de Brito, Monarch. Lusit., P. II, liv. 7, cap. 9.)




234. LENDA DE CHACIM
E DO MOSTEIRO DE BALSEMÃO

Um habitante da Alfandega da Fé recusou-se a ceder sua noiva para a prelibação, d'onde resultou uma renhida peleja entre christãos e mouros. Como os christãos eram poucos, Nossa Senhora veiu soccorrel-os, trazendo uma ambula de balsamo na mão, com que ia dando vida aos mortos e sarando os vivos. Em reconhecimento da victoria alcançada por este modo o povo fez uma ermida a Nossa Senhora do Balsamo na mão, e ainda hoje se celebra ali a festa do Cara-Mouro, resultando para a aldeia o nome de Chacim da chacina, que ali se fez nos infieis, e para a povoação de Alfandega o titulo da .

(Vid. J. A. de Almeida, Diccionario abreviado de Chorographia, t. I, p. 37.)