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CONTOS E PHANTASIAS

Hoje todas as vaidades se tinham apagado; fizera quarenta annos, e acolhêra-os com resignação, com dignidade, com uma certa graça melancolica que lhe ficava muito bem.

Nenhum dos rapazes que frequentavam aquella casa se atrevia a chamar-lhe solteirona.

A solteirona é a mulher solteira que não sabe acceitar resignada as amarguras da sua isolação, e as converte em ridiculos quando as não converte em pessimas qualidades.

A solteirona é pretenciosa, presumida, avida de attrahir a attenção, revolve os olhos sentimentalmente, lê romances, come gulodices, tem um king charles e inveja tudo o que é moço, radiante, feliz, tudo que tem esperanças e para quem o futuro desabrocha em promessas.

A solteirona é egoista, incommodam-na como uma injuria que lhe é particularmente dirigida todas as alegrias que não tem, persegue-a atrozmente a aspiração irrequieta a um pobre marido que podesse atormentar á vontade; sente-se na vida como n’uma casa que não é sua; d’aqui o seu mau humor continuado que torna d’ella quasi sempre o flagello da familia onde se sente pária!

A tia Izabel, porém, não era nada d’isto, pelo contrario.

Tinha para os sobrinhos um coração que, sem