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CONTOS E PHANTASIAS
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Passados dias notaram os socios do sr. Cerqueira que este não parava em casa um instante. Sahia frequentemente, andava mais contente e lepido que o costume. Pouco fallava ao jantar; de communicativo que era, tornara-se recolhido comsigo, mas no olhar lampejava-lhe uma doce e ineffavel alegria.

Ora que fazia o sr. Cerqueira?

Andava envolvido n'uma terrivel conspiração, queria desfazer-se, desligar-se dos queridos laços, creados pela sua longa e trabalhosa vida de perto de quarenta annos, n'aquella terra a que elle de entranhas queria, e aonde aportara pobre, desprotegido, sem recursos...

Logo pela manhã, depois de dar as suas ordens no escriptorio, mettia-se a caminho, percorria as ruas, examinando attentamente cousas que antes lhe haviam passado desapercebidas.

Entrando nos americanos, dirigia-se aos formosos arrabaldes da côrte..

Lembrava-se então das suas merendas saudosas e illuminadas pelo sol dos vinte annos, no morro de Santa Thereza, nas chacaras ridentes do Botafogo, á sombra das arvores do Corcovado.