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CONTOS E PHANTASIAS
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teve de explicar, de fazer comprehender áquelles castos ouvidos de quinze annos uma historia deploravel, a historia do seu crime!

Martha escutou-o n’um silencio dolorido, com uma expressão de doçura triste no olhar.

Depois abraçou-o melhor ainda que nos outros dias, porque até alli só tivera muito que agradecer e d’alli por diante sentia vagamente que tinha muito que perdoar.

— E minha mãe? — perguntou depois com uma tremura na voz.

— Tua mãe morreu.

O pae de Martha era casado, tinha filhos, vivia para sempre longe d’ella nas tranquillas alegrias da familia, uma familia em que ella só podia ser a intrusa!

Desde esse dia Martha estudou com dobrado afinco, aprendeu com uma ancia dolorosa, com um não sei quê de impaciencia inexplicada.

Sentia que havia de ter muito que soffrer, muito que luctar.

Tratou de robustecer a alma e de dilatar o espirito.

Era uma especie de iniciação heroica.