Que elle apanhou foi tal, tão formidavel,
Que, viva elle cem annos, é provavel
Que da memoria nunca mais lhe saia.
Mas, oh, astucia de mulher, quem póde
Sondar os teus arcanos,
Medir os teus recursos?!
Um Hercules não ha que não engode
O ardil dos teus enganos
Ou o mel dos teus discursos!
E o Vilella não era
Precisamente um Hercules, coitado!
A esposa, que elle amava, e por quem déra,
Feliz, enthusiasmado,
A vida, sí ella a vida lhe pedisse,
A esposa... que lhe disse?
Que o janota não era o seu amante,
Mas o seu mestre de francez; queria
Aprender essa lingua, que humilhante
Era viver na roda em que vivia,
Sem saber o francez... Elle, o marido,
Já meio convencido,
Lhe perguntou por que razão queria
Aprender em segredo,
E ella, pondo-lhe um dedo
No labio inferior, poz-se a agital-o,
Como si fosse um birimbáo, e disse:
— Eu queria fazer-te uma sorpresa.