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CONTOS CARIOCAS


E disse: — Pernas, para que vos quero?
Corri com desespero!
Felizmente outro tilbury bemdito
De uma esquina surgiu. Tomei-o, afflicto,
Deitando os bofes pela bocca, e disse
Ao cocheiro que rapido seguisse;
— Cocheiro, aquelle tilbury
Leva a mulher mais bella,
Casta visão archangela
Que nos meus sonhos vi!
Eu cem mil vezes pago-te
O preço da tabella,
Se apanhas o anjo celere
Que vae voando ali! —

Por tua intervenção, o magico dinheiro
Póde ter azas o peor sendeiro!
Vencendo o espaço indomito, valente,
O meu carro rodou rapidamente,
E eu apanhei o tilbury ligeiro,
Dizendo aos meus botões: — Agora não me es-
[capas,
Mulher que me puzeste a roupa branca em
[papas! —

Tu foste á estrada de ferro;
A’estação te acompanhei.
A locomotiva um berro
Raivoso estava soltando.
Não sei como, foste entrando,
E eu comtigo não entrei: