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CONTOS CARIOCAS


Olhos da côr do céo sereno e puro,
E cabellos da côr da madrugada
Quando reponta no horizonte escuro,
— Apaixonou-se pelo nosso Alfredo,
E taes olhares lhe lançou, tão fundos,
Que não pôde guardar o seu segredo.

O poeta, nos seus versos gemebundos,
Continuou a lastimar, coitado,
Viver pela mulata desprezado
Como folha arrastada pela brisa,
E não deu attenção á poetiza.

Um amigo do peito,
Que de tudo sabia,
Protestou contra essa anomalia:
— Alfredo! com effeito!
Isso é depravação! Pois tu engeitas
O amor de uma senhora intelligente,
Lindissima, attrahente,
Que faz poesias e que as faz bem feitas,
Pelo menos tão boas como as tuas,
Por não poderes esquecer um diabo
Uma mulher das ruas,
Que de ti dará cabo
Si não tomares juizo?!...
Vamos! que os olhos abras é preciso!
Não pódes hesitar entre ellas duas!...

— Meu caro amigo, respondeu Alfredo,
Tu tens toda a razão, mas eu não cêdo.