MORTOS E VIVOS
113


Com o véo que ella trazia
Ninguem ver poderia
Si era feia ou formosa;
Mas era esvelta, airosa;
Tinha o luto elegante;
E na alvura dos marmores, tristonha,
Destacava-se negra, mas risonha
A sua silhoeta interessante.

— Maldito véo de crepe!
Fernando murmurava...
Mas que ninguem o increpe:
O tempo é uma barrella, — tudo lava.

Segundo encontro. Desta vez a viuva,
Como o dia estivesse muito quente,
Tirára o véo e descalçára a luva.
Que visão sorprehendente!
Fernando achou que ella se parecia
Com a sua Maria...
Illusão dos sentidos: a defunta
Era de um typo muito differente.

Tendo feito ao coveiro uma pergunta,
Soube Fernando Veiga que a viuva,
Houvesse sol ou chuva,
Todos os dias ia ao cemiterio,
E elle, que só aos sabbados lá ia,
Dali por diante — vejam que improperio!
Quotidianamente apparecia.