158
CONTOS BRASILEIROS


— Mas por que esse philosopho profundo
Não publica o que escreve? — requeriam
Na roda illustre do meditabundo.

E sobre tal assumpto quando o arguiam,
— Não vale a pena —, murmuravam labios
Que lentamente e a custo se moviam.

— Eis o orgulho, dizia-se, dos sabios!
Por ignorante e nescio quer que o tomem,
E deixa-se ficar nos alfarrabios!

Mas, quando fallecer este grande homem,
Publicadas serão todas as obras
Que na sua modestia hoje se sommem... —

Elle fazia crer — com que manobras! —
Que guardava uma producção immensa
Da magra pasta entre as vazias dobras.

De vez em quando annunciava a imprensa
Ter Caneja entre mãos Minhas leituras,
Livro de erudição profunda e densa;

Mas das suas publicações... futuras,
A mais falada era um brilhante — Estudo
Comparativo das Literaturas.

Romances, versos, theatro, historia, — tudo
O inedito famoso produzia,
Continuando cada vez mais mudo...