O DOUTOR CANEJA
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A esposa, a esposa só, não se illudia;
Nunca vira o marido escrever nada
Desde que entrou na sua companhia;

Era, porém, discreta e delicada,
E não falava, nem por indirectas,
De um facto que a trazia envergonhada.

Entre os seus prosadores e poetas,
Envelhecendo foi o grão Caneja,
Impune sempre de tamanhas petas.

Agora já falava, mas a inveja
Contra quem qualquer coisa ao prélo dava,
Irritava-lhe a bilis malfazeja.

Nem uma phrase de louvor soltava,
Mas o doesto, a facecia repugnante
Que o caracter, o espirito deprava.

N’um tom de voz bradava altisonante
Que José de Alencar era incorrecto,
Que Machado de Assis era massante.

Emfim, quando esse quasi analphabeto,
Morto, mettido foi na cova fria,
Inda a viuva lhe deu provas de affecto:

A toda aquella gente que pedia
Noticia dos papeis do fallecido,
Entre sentidas lagrimas dizia: