A ESCRAVA
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Meu senhor, coração rude,
Homem que nunca chorou,
A criança para a roda
Dos engeitados mandou!
Que criminosa o seu crime
Tão caro como eu pagou?
Tres dias depois, eu vi-me
Dentro de um carro atirada,
Como negra vagabunda
Por um soldado levada
Ao trem de ferro e á fazenda
Onde outra vez fui surrada!
Justos céos! que vida horrenda!
Era já outro o feitor;
Meu pae já não existia,
Mas existia o terror;
Não era menos malvado
O seu digno successor.
Deus me havia reservado
De minha mãe o destino;
Como enojada fugisse
Aos beijos de um assassino,
Teve os beijos do vergalho
Meu triste corpo franzino.
Envelheci no trabalho,
Fui tarefeira exemplar;
Mas já não pego na agulha
10.