Frequentava o Lyceu o Arnaldo, e havia feito
Exame de francez, inglez e geographia,
Quando seu pae um dia,
Pilhando-o bem a geito,
Chamou-o ao gabinete e disse-lhe: — Meu filho,
Tu vaes agora entrar no verdadeiro trilho!
Tu já sabes inglez e francez; o Tiberio,
Teu mestre, um homem sério,
Me disse ultimamente
Que pódes dar lições de geographia á gente —
E, depois de tomar o velho uma pitada,
— Não quero, proseguiu, que tu saibas mais nada,
Pois sabes muito mais do que teu pae, e, como
Fortuna elle não tem para te dar mezada,
Deus, que me ouvindo está, por testemunha tomo!
Não has de ser doutor! E para que o serias?
Em breve, filho meu, tu te arrependerias.
Pois não vês por ahi tantos, tantos doutores,
Que não tomam caminho,
Soffrem mil dissabores,
Sem ter o que fazer do inutil pergaminho? —
Nisto o velho assoou-se ao lenço de Alcobaça,
E a trompa fez tremer os vidros na vidraça.
Página:Contos em verso.djvu/49
O SOCIO