era ardente, mas não lhe correspondia ao fogo do coração.
— É inutil, disse elle rasgando a carta em mil pedaços, a lingua humana ha de ser sempre impotente para exprimir certos affectos da alma; tudo aquillo era frio e indifferente no que eu sinto. Estou condemnado a não dizer nada ou a dizer mal. Ao pé d’ella não tenho forças, sinto-me fraco.....
Estevão parou diante da janella que dava para a rua, no momento em que passava um antigo collega d’elle, com a mulher de braço, a mulher que era bonita, e com quem se casára um mez antes.
Os dous ião alegres e felizes.
Estevão contemplou aquelle quadro com adoração e tristeza. O casamento já não era para elle aquelle impossível de que fallava quando apenas tinha idéas e não sentimentos. Agora era uma ventura realisavel.
O casal que passára dera-lhe nova força.
— É preciso acabar com isto, dizia elle; eu não posso deixar de ir áquella mulher e dizer-lhe que a amo, que a adoro, que desejo ser seu marido. Ella amar-me-ha, se já me não ama: sim, ama-me....
E começou a vestir-se.
Quando calçava as luvas e lançava um olhar para o relogio, o criado trouxe-lhe uma carta.
Era de Magdalena.