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Mendonça levantou-se justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que representava vinte e oito annos, no pleno desenvolvimento da sua belleza, uma d’essas mulheres que annuncião velhice tardia e imponente. O vestido de seda escura dava singular realce á côr immensamente branca da sua pelle. Era roçagante o vestido, o que lhe augmentava a magestade do porte e da estatura. O corpinho do vestido cobria-lhe todo o collo; mas adivinhava-se por baixo da seda um bello tronco de marmore modelado por esculptor divino. Os cabellos castanhos e naturalmente ondeados estavão penteados com essa simplicidade caseira, que é a melhor de todas as modas conhecidas; ornavão-lhe graciosamente a fronte como uma corôa doada pela natureza. A extrema brancura da pelle não tinha o menor tom côr de rosa que lhe fizesse harmonia e contraste. A boca era pequena, e tinha uma certa expressão imperiosa. Mas a grande distincção d’aquelle rosto, aquillo que mais prendia os olhos, erão os olhos; imaginem duas esmeraldas nadando em leite.

Mendonça nunca víra olhos verdes em toda a sua vida; disserão-lhe que existião olhos verdes, e elle sabia de cór uns versos celebres de Gonçalves Dias; mas até então os taes olhos verdes erão para elle a mesma cousa que a phenix dos antigos. Um dia, conversan-