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o abrio, cahio-lhe a carta aos pés. Abrio-a e leu o seguinte:

« Qualquer que seja a causa da sua esquivança, respeito-a, não me insurjo contra ella. Mas, se não me é dado insurgir-me, não me será licito queixar-me? Ha de ter comprehendido o meu amor, do mesmo modo que tenho comprehendido a sua indifferença; mas, por maior que seja essa indifferença, está longe de hombrear com o amor profundo e imperioso que se apossou de meu coração quando eu mais longe me cuidava d’estas paixões dos primeiros annos. Não lhe contarei as insomnias e as lagrimas, as esperanças e os desencantos, paginas tristes d’este livro que o destino põe nas mãos do homem para que duas almas o leião. É-lhe indifferente isso.

« Não ouso interrogal-a sobre a esquivança que tem mostrado em relação a mim; mas por que motivo se estende essa esquivança a tantos mais? Na idade das paixões fervidas, ornada pelo céo com uma belleza rara, por que motivo quer esconder-se ao mundo e defraudar a natureza e o coração de seus incontestaveis direitos? Perdôe-me a audacia da pergunta; acho-me diante de um enigma que o meu coração desejaria decifrar. Penso á vezes que alguma grande dôr a atormenta, e quizera ser o medico do seu coração; ambicionava, confesso, res-