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foi á janella e perguntou o que era; o escravo explicou-lh’o e tranquillisou-a dizendo que não havia ninguem.

Justamente quando ella sahia da janella apparecia á porta a figura de Mendonça. Margarida estremeceu por um abalo nervoso; ficou mais pallida do que era; depois concentrando nos olhos toda a somma de indignação que póde conter um coração, perguntou-lhe com voz tremula:

— Que quer aqui?

Foi n’esse momento, e só então, que Mendonça reconheceu toda a baixeza do seu procedimento, ou para fallar mais acertadamente, toda a hallucinação do seu espirito. Pareceu-lhe ver em Margarida a figura da sua consciencia, a exprobrar-lhe tamanha indignidade. O pobre rapaz não procurou desculpar-se; a sua resposta foi singela e verdadeira.

— Sei que commetti um acto infame, disse elle; não tinha razão para isso; estava louco; agora conheço a extensão do mal. Não lhe peço que me desculpe, D. Margarida; não mereço perdão; mereço desprezo; adeos!

— Comprehendo, senhor, disse Margarida; quer obrigar-me pela força do descredito quando me não póde obrigar pelo coração. Não é de cavalheiro.

— Oh! isso…… juro-lhe que não foi tal o meu pensamento……