das seis da manhã ás seis da tarde. Almoçava ás sete e jantava ás duas da madrugada. Não ceiava. A sua ceia limitava-se a uma chicara de chocolate que o criado lhe dava ás cinco horas da manhã quando elle entrava para casa. Soares engulia o chocolate, fumava dous charutos, fazia alguns trocadilhos com o criado, lia uma pagina de algum romance, e deitava-se.
Não lia jornaes. Achava que um jornal era a cousa mais inutil d’este mundo, depois da camara dos deputados, das obras dos poetas e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse athêo em religião, politica e poesia. Não. Soares era apenas indifferente. Olhava para todas as grandes cousas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era apenas uma grande inutilidade.
Graças a uma boa fortuna que lhe deixára o pai, Soares podia gozar a vida que levava, esquivando-se a todo o genero de trabalho e entregue sómente aos instinctos da sua natureza e aos caprichos do seu coração. Coração é talvez de mais. Era duvidoso que Soares o tivesse. Elle mesmo o dizia. Quando alguma dama lhe pedia que elle a amasse, Soares respondia:
— Minha rica pequena, eu nasci com a grande vantagem de não ter cousa nenhuma dentro do