nada, e não sei como havemos d'atravessar o inverno. Seja o que Deus quizer!»
Ao dizer isto o camponez limpava o suor da testa, e passava a mão pelos olhos arrazados de lagrimas. O Senhor teve dó d'elle, e disse-lhe:
— «Não desanimes. Quando te pedi hospitalidade, disse-te que não te havias d'arrepender de m'a ter dado. Vou provar-t'o.»
Pegou na candeia, que estava suspensa n'uma das traves do celleiro, e approximou-a do trigo.
— Que vae fazer? disseram assustados os trabalhadores, vae deitar fogo a tudo!»
Mas no mesmo instante, da palha, que elles receiavam ver inflammar-se, de cada espiga, desceu uma chuva de grãos prodigiosa. Á vista d'um tal milagre os camponezes maravilhados cairam de joelhos.
— Visto que foste caritativo, disse Jesus, visto que recebeste na tua pobreza o forasteiro que veiu ter comtigo como um pobre mendigo, serás recompensado. Foi Deus que entrou na tua fazenda, é Deus que te enriquece.»
Dito isto desappareceu.
E a chuva dos grãos não parou em toda a noite, e fez um monte tão alto como a egreja.
O camponez pagou as suas dividas, comprou terras, e construiu uma bella casa. Era rico, e tornou-se orgulhoso e altivo com os pobres. Elle e seus filhos adquiriram costumes perdularios, tanto e tanto fizeram, que se arruinaram, e, como tinham sido maus nos tempos em que eram ricos, ninguem os ajudou na sua miseria. Uma noite o velho camponez, que bebera enormemente, entrou