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MARQUES DE CARVALHO

O ar estava impregnado do perfume das flôres — piedosamente depostas em cima das sepulturas por mãos amigas, — e do cheiro mystico da cêra queimada.

Ao longe, á direita da ermida, uma banda de musica executava plangentemente uma funeralesca marcha em tom menor, cujas maviosidades lugubres faziam suspirar as velhas beatas, — aspirando a uma outra vida desconhecida, além d’aquelle firmamento negro, no logar onde a omnipotencia incondicional da Divindade lhes parecia dominar em toda a sua magestade.

Entretanto, de espaço a espaço, grandes ondas de povo invadiam o cemiterio. Este, áquella hora, mal podia contel-as; porisso, as pessoas que receiavam um atropello, saíam enfadadas, murmurando indecencias.

Á porta, do lado exterior, cocheiros desboccados conversavam livremente com as pretas sentadas em frente das bandejas de doce allumiadas pelas lanternas que estavam sobre a baeta encarnada. Mendigos repellentes, de vestes sujas e mal cheirosas, plangiam supplicas, tentando demover em seu favor a caridade dos visitantes piedosos.

Alguns vadios encostados a um rico mausoleu de marmore assetteavam olhares torpemente libidinosos ás moças que entravam seguidas de suas mamães, n’um