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DA FRANÇA AO JAPÃO

assim nesta noite, como em doze dias mais, que pousámos com elle.»

Estas linhas bastão para mostrar como Pinto aportou no Japão, e fica bem provado, pelos capitulos seguintes da narração de Pinto, e que não transcrevemos por serem extensos, que foi elle, e Zeimoto um dos companheiros a quem se refere, os primeiros filhos do occidente que forão ao Japão. Fica ainda provado pelos annaes do Japão que, apezar de ser já ahi conhecida a polvora, forão Pinto e seus companheiros que primeiro fizerão conhecer aos japonezes-as armas de fogo e lhes ensinarão o modo como d’ellas se devião servir.

Segundo a ordem dos factos e algumas datas apresentadas por Pinto nas suas 'Peregrinações, devemos concluir que este viajante chegou a Tanegasimá em começo do anno de 1545, o que não combina com a tradicção Japoneza que menciona a chegada do primeiro navio europeu no Japão em 1543; comtudo, parece-nos que não é prova bastante esta divergencia para autorisar a rejeitar como falso, ter sido Pinto um dos descobridores do Japão. Erros semelhantes se tem observado em outras datas, que, entretanto, forão verificadas de diversos modos.

Ainda hoje, no Japão, póde-se vêr desenhados sobre papel os retratos dos primeiros europeus que alli aportarão; e pelo vestuario, accessorios e mais signaes, conhece-se perfeitamente que são portuguezes do XVI seculo o que elles representão.

Pinto voltou alguns annos depois á Gôa, tendo neste intervallo, realisado varias viagens ao Japão, com o que ganhou boa somma de dinheiro.

Segundo conta o Padre Melchior Nunes Barreto, foi Pinto quem convidou e acompanhou ao Santo padre Francisco Xavier, tambem chamado o apostolo das Indias, ao Japão, e ahi deixando este virtuoso varão, Pinto voltou á Europa à occupar, durante muitos annos, lugar distincto na côrte de Philippe II, que o tratava com estima e distinção.

Facil foi o estabelecimento dos portuguezes no Japão, e varias causas concorrerão para attingirem a este fim.