DA FRANÇA AO JAPÃO
55

Entre outras dançarinas sobresahia uma, pelo bem desenhado contorno de seus membros e ostensivo vestuario. Esta robusta africana trajava curto saióte sobre largas calças, e na parte superior do seu corpo apparecia o peito de fina camiza, negligentemente aberto, e deixando ver custoso colar que em multiplices voltas rodeavão seos seios e pescoço.

Eis como os naturaes de Aden danção por occasião de suas festas o fado africano.

Á um signal os homens e mulheres formão dois grupos, e quando os musicos dão começo as melodiosas harmonias de que são capazes seus instrumentos; de cada grupo destaca-se um individuo fazendo mil tregeitos com o corpo, batendo palmas e cantando; então, a mulher, depois de parecer acceitar as momices que lhe faz seu par, recua fugindo-lhe com o corpo e afastando com ligeireza seu rosto aos labios do amante.

Um outro individuo embarga o passo ao infeliz pretendente, e, repetindo os mesmos movimentos, esforça-se em roubar o penhor tão desejado; e só quando as faces se encontrão fortuitamente ou por calculada intenção, é que outra meiguiceira fadista sahe ao encontro do seu par, repetindo-se as mesmas scenas; emquanto que os felizes amantes, com seus braços enleiados, e governados por sensual sentimento, vão as barracas beber o licôr indigeno de que já fallamos.

E se a dança que acabamos de descrever, não se parece em todos os pontos com o fado da nossa terra; é certo que este nada mais é do que a dança africana de Aden, mais degenerada, ainda que melhor acompanhada pelas sapateadas e o tinnido das esporas dos nossos jovens lavradores.

Recolhemo-nos a bordo já bastante tarde e no dia seguinte quando subimos a tolda, vimos o Ava rompendo as vagas alterosas do Pacifico.

A viagem de Aden á Ponta de Galles, na ilha de Ceylão, é muito insipida, e esta é a phase da viagem ao Oriente, a mais monotona, pois, durante sete dias, a vista se perde na immensidade do oceano sem repousar em objecto algum que a farte e a deleite.