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DO PORTO. CAP. I
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go, tudo quanto ſe oppunha á ſua animoſidade. Eſte impio Rei, que mandou cortar a cabeça a ſeu proprio filho S. Hermenigildo, porque naõ quiz ſeguir a falſa doutrina de Ario, foi o que depois de conquiſtar a Cidade de BRaga Córte dos Suévos, paſſou á Cidade do Porto, donde deſterrou a Conſtancio Biſpo Orthodoxo, e nomeou em ſeu lugar a Argiovitro Biſpo Ariano. Porém eſte, logo depois abjurou os ſeus erros no Concilio Toledano celebrado a 8. de Mayo de 589. Ficou eſta Cidade ſujeita aos Godos, até que elles meſmos foraõ deſtruidos, e expulſos das Heſpanhas, quando nellas entráraõ os Mouros auxiliados pelo traidor, e infame Conde Juliaõ, que entregou aleivoſamente ao furor daqueles barbaros a ſua Patria, o ſeu Rei, a ſua Naçaõ. Aconteceo eſta invazaõ, e conquiſta geral das Heſpanhas pelo anno de Chriſto 716., ſendo Abdelazin o que entrou em Galiza até ás margens do Rio Douro, tomando as Cidades, e Villas ſituadas neſte continente.

Daqui ſe conclue, que ſendo a Cidade do Porto fundada no anno de 417., experimentou no eſpaço de tres ſeculos, tres differentes Senhores: Os Suévos, que a fundáraõ; os Godos, que a conquiſtáraõ; e os Mouros, que a ſenhoreáraõ até ao Reinado d’ElRei D. Affonſo I. chamado o Catholico, que auxiliado de ſeu Irmaõ D. Froyolano a reſtaurou em 820. Abderraman Rei de Cordova, querendo reconquiſtalla, veio ſobre ella com hum Exercito formidavel, que foi deſtroçado por Hermenigildo a qual ElRei D. Affonſo tinha feito Conde deſta Cidade. O cam-

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