costa, uma alta cadeia de montanhas — destinadas na física do globo individualizar os climas, segundo a expressão sempre elegante de Humbolt — na qual refletindo ascendam aquelas correntes às altas regiões aonde um brusco abaixamento de temperatura, determinado pela dilatação num meio rarefeito, origine a condensação dos vapores e a chuva.
A observação do relevo da nossa costa justifica em grande parte esta hipótese despretenciosamente formulada. De fato, terminada a majestosa escarpa oriental do planalto central do Brasil, a serra do Mar, que desaparece na Bahia, diferenciada em serras secundárias, acentua-se de modo notável para o norte a depressão geral do solo de ondulações suaves, patenteando num ou noutro ponto apenas, sem continuidade, as massas elevadas do interiror.
Por outro lado, a estrutura geognóstica daquela região, composta em grande parte de rochas dotadas de alto poder absorvente para o calor, determina naturalmente a ascenção quase persistente de grandes colunas de ar, ardentíssimas, que dissipam os vapores ou afastam as nuvens que encontram.
Da concorrência de tais fatos, acreditamo-lo, resulta provavelmente a causa predominante das secas que periodicamente assolam aquelas paragens, estendendo-se com maior intensidade aos estados limítrofes do interior.
Daí a aridez característica, em certos meses, dos sertões do Norte.
Nessas quadras a relva requeimada, através da qual, como única vegetação resistente, coleiam cactos flageliformes reptantes e ásperos, dá aos campos, revestidos de uma cor parda intensa, a nota lúgubre da máxima desolação; o solo fende-se profundamente, como se suportasse a vibração interior de um terremoto; as árvores desnudam-se, despidas das folhagens, com exceção do juazeiro de folhas elípticas e coriáceas, — e os galhos que morreram ficam por tal modo secos que, em algumas espécies, basta o atrito de um sobre outro para produzir-se o fogo e o incêndio subsequente de grandes áreas.
E sobre as chapadas desertas e desoladas alevantam-se quase que exclusivamente os mandacarus (cereus) silentes e majestosos; árvores providenciais em cujos galhos e raízes armazenam-se os últimos recursos para a satisfação da sede e da fome ao viajante retardatário — cactáceas gigantes que, revestidas de grandes frutos de um vermelho rutilante e subdividindo-se com admirável simetria em galhos ascendentes, igualmente afastados, patenteiam a conformação típica e bizarra de grandes candelabros firmados sobre o solo...