Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/169

duma mulher da epoca


 

so; veste-o com naturalidade e elegância; sorri, procura ser benevolente. O que é a vida senão uma longa série de sacrifícios?

Se souberes ser encantadora, simples, suprindo pela graça o que te falta em opulência, até a própria Julieta se convencerá de que não vale a pena encomendar vestidos da Régny.

Almira renovou, ostentosamente, a sua sala de visitas? Os polimentos reluzem? As côres dos tapetes e dos estofos são frescas, vivazes, recordando a cada instante o Alcobia e o Castanheira? Tu, que não podes fazer outro tanto, não deves considerar-te em pior situação. Povoa de flôres as tuas jarras, substitue os cortinados por outros mais garridos, arranja um novo e vistoso bibelô. Em tua casa haverá mais encanto do que em casa de Almira, que está longe de ter bom gôsto e tem sempre viuvos, desolados, os seus jarrões custosos.

Há ainda o salto, aliás bem pouco extenso, com que o marido de Terezinha atingiu mais um grau do petipé resvaladiço da repartição. Mas como não depende de ti fazer com que a teu marido suceda outro tanto e o despeito que te devora é sentimento infecundissimo, o mais acertado será resignares-te e esquecer como as nobres heroínas dos romances a fasciculo.


— 167 —