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Diana de Liz: Memorias


 

Quiz beijar-lhe as mãos, pedir-lhe que atentasse em que só o meu grande respeito por êle e a impossibilidade de resistir ao meu ardente afecto por outro me tinham levado áquele procedimento. Retirou as mãos e nada mais quiz ouvir, saíndo do gabinete.

Voltei para o meu quarto com os olhos cheios de lágrimas, mas com a consciencia liberta do terrivel pêso que a estava esmagando havia cinco mêses. Reuni numa pequena mala dois dos meus vestidos mais simples e mais usados, algumas roupas e diversos objectos sem importancia. Tirei os brincos de brilhantes que trazia e meu marido me havia dado e coloquei-os sobre o toucadôr; abri novamente o guarda-vestidos, despedi-me com o olhar do seu rico conteúdo que nunca mais tornaria a vestir e chamei uma criada a quem recomendei que entregasse a mala à pessôa que, por minha ordem, a fôsse buscar...

Saí, comprei o Diario de Noticias e procurei os anuncios de quartos para alugar. Lembrei-me, depois, de que só tinha comigo cinco mil réis e fui a casa da madrinha Amélia, contando-lhe, logo que entrei, o que tinha sucedido e pedindo-lhe emprestados cem mil réis, que depois pagaria como pudésse. Ela, coitada, deu-mos logo, sem uma palavra de censura e com as lágrimas nos olhos. Nessa mesma tarde consegui encontrar um pequeno quarto, modestissimo, onde me

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