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duma mulher da epoca


 

alojei. Lembro-me de que estava tão alquebrada de corpo e espírito que dormi profundamente nessa primeira noite passada num humilde quarto andar, num pobre leito de ferro...

No dia imediato e nos que se lhe seguiram consultei desesperadamente os jornais, procurando trabalho, ansiosa por conseguir um logar que me garantisse o sustento. Tudo isto com os olhos turvos de lágrimas, minha querida Tia, mas orgulhosa por não ter sido ou não me considerar infame e cheia de esperança pelo meu amôr...

Ao fim de quatro dias achei ocupação diária num consultório de beleza, para ajudar a fazer tratamentos estéticos. Seis horas de trabalho cada dia, noventa mil réis por mês.

Que pungente foi esta determinação do Destino! Noventa mil réis mensais para todas as despezas duma mulher, duma rapariga que antes dispendia, só com os seus gastos particulares, cerca de quatrocentos, sem incluir as toilettes, especialmente custosas! Mas puz-me ao trabalho, sem perder a coragem. Arranjei uma lição de piano, duas noites por semana, e ainda passei a aproveitar alguns raros momentos de ocio, bordando napperons e fazendo alguma renda inglêsa para uma retrozaria da Baixa.

Só depois de me ter certificado de que estas ocu-

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