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Diana de Liz: Memorias


 

pações, que ainda conservo, me permitiam equilibrar-me na vida, embora com dificuldade, escrevi ao causador da minha mudança de situação, que ainda não conseguira saber de mim e acorreu com alegria ao meu apelo.

Quantas censuras ― quantas! ― me dirigiu por eu não o ter procurado logo depois de haver deixado a casa de meu marido! Declarou-me que não consentiria que eu trabalhasse; disse-me que eu não poderia habituar-me a vida tão fatigante; afirmou-me que não toleraria que eu vivêsse assim em tanta pobreza, tendo vindo dum meio regalado que, por causa dêle, deixára. Fui inflexivel e proibi-lhe que tocasse de novo no assunto, jurando-lhe que de modo algum deixaria de trabalhar e ainda menos aceitaria das mãos dêle qualquer auxilio material, fosse qual fosse...

Beijou-me as mãos, com os olhos húmidos, e não disse mais palavra. Hoje somos felizes e quando á tarde, ás vezes extenuada, deixo o consultório e me encontro com êle, compreendo bem até que ponto chega a nossa mútua afeição e sinto-me mais do que compensada dos meus tormentos, das minhas lágrimas e das minhas humilhações. Bemdigo, então, aquela hora de valor e franqueza que me preservou duma vida de indignidade, de hipocrisia.

As minhas antigas amigas fingem não me vêr

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