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Diana de Liz: Memorias


 

um apaixonado da graça e da beleza e que, ao vêr que te metamorfoseavas de criança gentil em mulher adorável, tinha forçosamente de transformar-se em paixão exaltada o meu antigo afecto calmo, quási paternal. Ha meses que penso fazer-te esta confidencia, submetendo-te o meu destino, tornando juiz desta paixão outonal a tua mocidade radiosa. Resolvo, hoje, dizer-te tudo. Que irá suceder? Serei sempre, para ti, o tutor que já fez quarenta anos, que te conheceu pequenina, que tem alguns cabelos brancos, algumas rugas e não poucos desenganos do mundo? Ou quererás lembrar-te de que, fazendo-me a dádiva inebriante da tua alma em flôr, serias, ao mesmo tempo, uma rainha a quem eu beijaria os pés em horas de comoção profunda, uma boneca com quem eu brincaria, infantilmente, ás vezes; um idolo a quem eu adoraria de joelhos, em momentos de amorosa devoção? A minha idade dobra a tua, é certo; mas tambem é verdade que devo morrer muito antes de ti. Poderias, talvez, depois de haver feito a ventura suprema dos meus ultimos anos, gozar ainda uma segunda vida, conhecer novos amores. Não sou, bem vês, muito egoista... Seja o que fôr que penses, peço-te que mo digas com a tua ingénua e habitual franqueza, porque eu aceitarei sem discutir, esmagado pela dôr ou entontecido pelo júbilo, a sentença que tu proferires».


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