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Diana de Liz: Memorias


 

mo de sentir que a minha resolução de falar se desvanecia numa onda de cobarde timidez. Compreendi que se não falasse naquela noite não falaria nunca — e teria de perder Lídia, a imperatriz dos meus sonhos, que dentro em pouco abriria às tentações do mundo a sua alma a florir.

Os meus olhos subiram da nuca de Lídia ao jarrão; o quimono, de uma atenuada côr de rosa, tornára-se de um vermelho-sangue...

Lídia cantava agora uns versos franceses, adaptados à canção do Volga. E eu tive, então, a certeza enlouquecedora de que não falaria — nem naquela noite nem nunca —, de que Lídia seria de outro, sem suspeitar, em toda a sua vida, do amor insensato que eu lhe tinha. Fiz um esforço supremo, adiantei um passo — e entreabri os lábios. O meu olhar encontrou, nesse segundo, o espelho oval da parede fronteira. A luz do salão não era mentirosa, como a do meu quarto... Vi numerosas rugas em tôrno dos meus olhos, vi como a fadiga me vincára as feições. Nunca tinha visto tão nitidamente, nem mesmo nos dias de mais claro sol, a devastação irremediável que me desesperava agora... Soltou-se-me dos lábios um gemido; fugi para o meu quarto, como louco. Ouvi ainda um grito da assustada Lídia.

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