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Memorias duma mulher da epoca


 
Primeira parte
 

15 de Outubro

Amanhã, amanhã! A minha alma abre-se, ansiosa, para a Vida, essa Vida que desconheço e tantas vezes me tem feito meditar. Sosinha, a horas mortas, no meu quarto de virgem, penso frequentemente no que será a verdadeira vida; sonho-a muito diferente da existencia incolor e monótona que sempre arrastei aqui, em casa de meus pais.

Amanhã, Vasco virá pedir a minha mão. Já mandei buscar flores, muitas flores para que o meu jubilo respire o perfume perturbante dos cravos, para que os meus olhos poisem, encantados, na cabeleira caprichosa dos crisântemos. Minha mãi, pálida e enternecida, meu pai, aprumado e sereno, eu, vestida de verde e ligeiramente nervosa, receberemos Vasco e seu tio, na sala grande. Nos olhos de minha mãi hão-de, forçosamente, rebrilhar duas lágrimas. E uma nuvem de comoção perpassará no ambiente.

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