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Diana de Liz: Memorias


Sinto bailar dentro do meu cerebro excitado a multidão dos meus sonhos, dos meus desejos ardentes e intensos. Tardavam-me estes momentos de prazer; já fiz vinte e dois anos e há quatro que vivo na ansiedade de casar embora afirmando o contrário a todas as minhas amigas.

Estou tonta de alegria; agora mesmo, em vez de mergulhar a pena no tinteiro, molhei-a na chavena de chá, que, diante de mim, espera o contacto dos meus labios inquietos. Creio que estou febril. Tenho os nervos, desde ontem, num continuo alvoroço.

Vou ser rainha dum minusculo reino, de um reino de bonecas, frivolo e perfumado, mas no qual as minhas ordens serão sempre cumpridas e os meus desejos respeitados. Poderei fazer o que quizer que me seja necessario ensaiar rogos nem esperar so- lenes permissões.

Reflexionando assim, não me suponho ingrata, desamoravel, para com meus pais; ao seu afecto corresponde o meu, calmo e reconhecido. Mas a vida deuma rapariga solteira é polvilhada de mil pequeninos dissabores, que tomam, por vezes, forma de humilhação... Quando, por exemplo, disponho de certo modo um cortinado, uma jarra, uma cadeira, e minha mãi, por discordar do meu criterio, vem, logo após, modificar essa disposição, eu sou forçada a submeter-me,

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