homem glabro e pálido que passava na sua rua tranquila...
Desceu do auto à porta duma casa de luxo, cujas vitrinas ostentavam modelos sumptuosos, dêsses que todas as escravas da Moda ambicionam para coroar as cabecinhas frivolas.
Desceu do auto — e estremeceu: junto duma porta estava o homem desconhecido e pálido, conversando com dois amigos. Mas, quanto ela o estranhou! Ao falar, perdia a sua expressão grave e triste, essa expressão que tanto a impressionára, que lhe fizera viver horas de sonho e lhe romantizára a existencia árida. Era cinico o rictus da sua boca e atrevido o olhar que ela se habituára a ver ensombrado de melancolia. E, para cúmulo, no momento em que ela, de olhos baixos, transpunha, a porta, uma frase de galanteio, mas de galanteio digno de rufião ébrio, partiu dos lábios do homem pálido.
Ela entrou, balbuciou umas palavras vagas e saíu pouco depois, sem saber a côr dos chapéus que escolhera. O homem pálido já não estava à porta. Ela aninhou-se no auto e sentiu frio, apesar da primavera reinar e o sol estar já doirado e quente...
Chegou a casa, pensativa, entristecida, com a fadiga moral de quem sentiu uma derrocada, uma derrocada dentro da própria alma. Foi à janela, cerrou mais
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