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Diana de Liz: Memorias


Se a não tivesse não te escreveria como te escreve...

Nada respondi. A minha sensibilidade doía-se com aquela conversação que se me afigurava monstruosa e que fui desviando a pouco e pouco para outro rumo.

Ontem adorei Gilberto depois de o ter achado detestável; vi-o, como nunca, exuberante de vida e de calor. Talvez que a convicção de que um amigo seu me ama e me deseja o aguilhoasse

Domingo, 16.

Luciano, porque não hás-de apartar o teu espirito cristalino, a tua alma excepcionalmente nobre, das miserias ignóbeis do mundo, criando um horizonte esplendente, liberto de toda a materialidade, para o teu afecto por mim? Se eu, pobre filha de Eva, pecadora como ela, sei conservar, em meio duma esgotante luta de raciocinios contradictorios e loucas fantasias, cuja base oscilante se esborôa dum momento para o outro, um sentimento inalteravelmente puro — a minha amizade por ti — porque não sucede outro tanto contigo, porque entrevejo eu, em certos instantes, nas tuas pupilas lucidas, o reflexo duma tentação impura?!

Ao suspeitar-me arrastada pelo torvelinho das paixões, ao advinhar-me subjugada, mordida por mais

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