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duma mulher da epoca


dum pecado mortal, deixas transparecer no teu olhar um mundo de censuras, de magua 'e de zelos, sem que pelo teu espirito deslize, ainda que leve como uma sombra, a idéa justa de que a ternura imaterial que soubeste inspirar-me está tão acima das minhas fraquezas mundanas como o está da terra vã, corrupta, o sol consolador e magnifico que a ilumina e a fecunda...

Segunda-feira, 17.

Passei, esta tarde, em casa de Luizinha, umas horas despreocupadas, em que o bom humor doutros tempos me acompanhou. A Luizinha não perde o habito dos seus chás semanais, cuja frequencia ela se esforça, com incrivel tenacidade, por apurar e refinar... pelo menos no exterior.

Assím, aquela excelente e honestissima rapariga, a quem a mania do mundanismo frivolo faz desmerecer, não pode, intimamente, concordar com o meu estado de divorciada, que nem sequer vive com seus pais; no entanto, como sou bonita e distinta, considera-me um elemento decorativo, indispensável nos seus chás. Daí, tantos e tão amaveis convites, que eu de quando em quando utiliso.

Hoje, apeteceu-me ver gente, daquela gente insignificante de espirito e brilhante de aspecto que se

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