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duma mulher da epoca


que a minha ternura por ele é infinita; mas lembrei-me de que a palavra ternura por si só não o contentaria e de que não poderia, sem mentir, falar-lhe em amôr...

Desisti, enervada, esmorecida. Era já noite e fazia frio. Subi para uma carruagem vazia que ia passando; colei me a um canto, contra o forro acolchoado, e chorei, pensando que surgem, de quando em quando, na vida, complicações desconcertantes que nos roubam a calma e nos desnorteiam o espirito, amargurando e inutilizando as nossas melhores intenções...

Domingo, 16.

Festejou-se ontem, em casa da Luizinha, o aniversário do seu casamento, um dêsses casamentos que a paixão não aquece mas que nem a maldade nem a intolerancia envenenam. Uma mocidade fresca, vaprosa e alegre enchia as suas salas, que uma claridade loira inundava em reflexos macios.

Ergui-me, de repente, entristecida até ás lagrimas, e afastei-me. Porquê? Não sei, não sei dizer... Introduzi-me na saleta proxima, com o meu passo ligeiro, dançante, que já um poeta cantou; alonguei-me num divam e dispuz-me a meditar sobre os inconvenientes da vida duma divorciada... Mas, á minha direita, por traz dum biombo de seda de ramagens, uma

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