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Diana de Liz: Memorias


voz de homem, um tanto velada, e uma voz cantante, murmurante, de mulher, distraíram-me de reflexões egoistas:

—Que chusma de idiotas, lá fóra!... Aqui podemos conversar.

— Sim, está-se bem aqui...

— Acho-te hoje melancólica... Que tens?

— Nada...

— Olhas para mim com uma insistencia... Que vês nos meus olhos?

— Vejo-me a mim própria, como num espelho...

— É uma evasiva.

— Não, não é. E tu que vês nos meus?

— Nada, absolutamente. São tão escuros! Mas têm um brilho singular...

— As únicas duas coisas que as tormentas da vida me pouparam, são o brilho dos olhos e a frescura da bôca...

— E a frescura do coração?

— Oh, o coração! Partiu-se um dia, meu amigo. Mas não imaginas de que funda ternura são ainda susceptiveis os seus destroços.

— Ah, sim... Eu sei que amaste outro homem. Tenho, até, frequentemente, a curiosidade de saber como o amaste. É pena... No paraizo deste nosso

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