Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/84

Diana de Liz: Memorias


de. A verdade é que, se meu marido houvesse sido correcto, fiel, não estariamos divorciados como estamos; eu ainda o amaria como o amava no dia em que lhe dei o primeiro beijo e não teria sido estreita da pelos braços doutro homem... Mas assim não foi... e, hoje, que irreverencias formidaveis pratico, furtivamente, contra os principios que um oitavo de humanidade respeita, que outro oitavo desrespeita sem rebuço e os restantes seis oitavos fingem respeitar!...

Pecadora... Sim, sou uma pecadora. Mas, meu Deus de ternura e bondade, seria então necessário, para bem te servir, que eu fosse insensivel ás afrontas dum marido pouco escrupuloso? Que arrancasse o coração e aniquilasse as justas aspirações da natureza, renunciando a novos afectos?

Se, em vez de me deixar arrastar pelos impulsos dum temperamento insubmisso, eu fosse calculadora e ponderada, e contraisse um segundo matrimonio, por exemplo com o detestavel M. de S., que mais duma vez mo propôz-é certo que determinadas pessoas me censurariam acremente, acusando-me de ultrajar a religião e Deus sabe se eu sou ou não uma crente sincera! — mas quantas outras bôcas louvariam o meu bom senso e o meu tacto, por ter realizado sem escrupulos a venda legal de mim mesma!...

Uns e outros criticam a minha situação de mulher

— 82 —