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duma mulher da epoca


afecto vive a serpente do ciume, do mais cruel dos ciumes. O ciume do passado...

Levantei-me e saí. Ouvi um ai de choro, um ai de uma alma de mulher que se debate dentro do circulo de ferro do Irremediavel. Deslizei pelo corredor e fui ter a uma varanda que dá para o pequeno jardim da Luizinha. O luar estava lindo; lembrei-me de Afonso Lopes Vieira:

A dor e a graça de amar,
O Sonho e a flôr do desejo,
Que mais são que um ai, que um beijo,
Uma lágrima, um luar?

Eu sei quem eram, sei quem são os dois entes sofredores cujas almas se combatiam docemente, doloridamente, ontem, á noite, naquela saleta retirada. Mas nem mesmo a este caderno que só eu leio confiaria os seus nomes...

Segunda feira, 17.

Ainda ante-ontem passei a tarde com Gilberto e já hoje tenho um desejo louco de o ver novamente... E penso, penso sempre no melindre da minha situação; desde que me permiti a liberdade de cultivar, embora a ocultas, certas afeições ilegitimas, deixei de ser uma mulher honesta, segundo as leis da socieda-

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