Página:Diccionario bio-bibliographico cearense - volume primeiro.djvu/162

azul costurado na fimbria; a cintura abotoada d’ahi até a gola, tendo por baixo dessa tunica uma camisa e ceroula de algodão nacional. Calçava alpercatas de sóla. O cadaver media um metro e sessenta de comprido, era de côr morena e edade presumível de sessenta ou cin- coenta e cinco annos. Estava em começo de putrefacção e apresentava cabellos negros, longos e bastos, fronte estreita, rosto largo e magro de maçans salientes, guarnecido de barbas longas, nariz destruído na porção musculosa, a maxilla infe¬ rior, como a superior, desprovida de dentes; mãos descarna¬ das e pés pequenos. Concluído o exame, que não poude ser levado adiante pela deficencia de meios, reconhecemos pelos signaes descrip- tos e pelo testemunho de muitos prisioneiros e varias pessoas presentes, entre as quaes o membro presente da commissão acadêmica, João Pondé, ser o corpo de Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antonio Conselheiro, que ahi residia como chefe de um nucleo de fanaticos e aventureiros da povoação de Canudos, no sertão da Bahia. Seguem-se as assignaturas ». Acerca da lucta de Canudos lêa-se o notável e nunca assás elogiado livro Os Sertões, saído da penna do inolvidᬠvel e mallogrado Euclydes Cunha. O espantoso ascendente, que Antonio Conselheiro exer¬ ceu sobre os sertanejos da Bahia e que os levou a se dei¬ xaram exterminar, velhos, creanças, mulheres, aos milhares, vi¬ nha de longa data. Já em 1879 Sylvio Romero o descrevia assim nos Contos Populares : « Um individuo criminoso do Ceará, escreve o illustre critico, sahiu a fazer penitencia a seu modo e inaugurou pre¬ dicas publicas... No seu percurso veio ter aos sertões da Ba¬ hia e fundou uma egreja em Rainha dos Anjos. Chamava-se Antonio e o povo o denominava — Conselheiro. Passou por Sergipe, onde fez adeptos. Pedia esmola e só acceitava o que suppunha necessário para sua subsistência, no que divergia dos nossos mendigos 143 Digitized by Google Original from UNIVERSITY OF CALIFÓRNIA