estava eu sentado à janela, donde avistava a casa de Duarte. Esperando ver Emília passar na varanda e cortejar-me de longe, como às vezes costumava, eu refletia sem querer sobre esse caráter original de moça.
De repente sou arrancado às minhas reflexões por uma chuva de bogarins; e ouço perto o gorjeio de um riso melodioso, que os ecos de minha alma tanto conheciam. Emília estava defronte, além da cerca de espinheiros que dividia o meu jardim da sua chácara. Uma capa de casemira escura cobria-lhe quase todo o vestido, e o capuz meio erguido moldurava graciosamente seu rosto divino.
O exercício lhe avivara o saboroso encarnado das faces, onde tremulavam algumas gotas da chuva. Seus olhos negros saltitavam de prazer, como dois colibris voando ao meu encontro. Curvava-se para colher os botões de bogarim que me atirava; e tão suaves eram as flexões desse talhe, que apesar das largas roupagens percebia-se a doce vibração do movimento revelado exteriormente por um harmonioso ondulado.
Eu devera já estar habituado aos caprichos dessa moça; mas tudo quanto ela fazia era tão desusado, que me levava de surpresa em surpresa. Assim, correndo ao seu encontro, não achei palavras, mas unicamente sorrisos para acolhê-la.
— Está admirado de me ver aqui? disse ela. — Não gosto de ser contrariada, nem mesmo pelo céu. Acordei hoje com uma alegria de passarinho! Tinha saudade das árvores!... Abri a minha janela;