— Quando eu morrer, Augusto, há de examinar o meu... Para ver se é diferente!

— Que idéia!... Deixe isso, Mila! retorqui fechando os livros e instrumentos nos armários. — Sinto não ter em minha casa objetos mais alegres para distraí-la. A minha profissão é triste, já lhe disse, bem triste! Vive das misérias do próximo. Suas alegrias são sempre travadas de dores!... Afinal nos habituamos. Mas enquanto não chega essa indiferença, que dúvidas! E quando chega, que aridez! Por isso, Emília, eu sinto a necessidade de um santo amor, que me proteja contra a descrença, e me preserve a alma desse terrível contágio do materialismo.

Emília me ouvira comovida. Ergueu-me a fronte, para que eu recebesse o meigo sorriso, cheio de ternura, que ela me queria embeber n'alma.

— O que lhe disse eu naquela noite?... Espere! Talvez não espere muito tempo! Envolvendo-se na sua capa, fugiu por entre as árvores.

Depois dessas mútuas expansões e das nossas entrevistas solitárias, depois sobretudo da promessa que ela me fizera partindo, parecia natural que eu fosse crescendo na afeição de Emília; porém esta moça era cada vez mais incompreensível. Os dias que seguiram tratou-me com bastante frieza: e uma tarde com desdém até.

Achei-a lendo uma folha de pequeno papel bordado que me pareceu carta: pensei que fosse da prima. Ela nem ergueu os olhos para cumprimentar-