obscura e desconhecida, bem sei. Nossos triunfos, não os obtemos na praça ou no teatro, diante da multidão que aplaude; mas lá, no recôndito de uma casa, no aposento silencioso, onde geme a criatura. Só Deus os contempla, só ele os recompensa. O mundo e aqueles mesmos a quem salvamos, nos pagam, mas nem nos agradecem às vezes. Foi a natureza, dizem eles. Mas os reveses, esses pesam sobre nós. É uma glória amarga, Emília, a que me coube em partilha.

— Quem lhe impede de aspirar a outras?

— A minha consciência. Quando me dediquei à medicina não busquei só um meio de vida; votei-me a um sacerdócio. Sinto que a minha aptidão é essa; fugir a ela fora mentir à minha missão neste mundo.

— Tem razão! A verdadeira glória deve de ser essa; fazer o bem. Eu é que sou uma louca! Mas já gostava da medicina; agora vou gostar ainda mais.

E para confirmar seu dito, Emília começou a examinar os instrumentos e livros com uma travessura infantil, roçando por eles de leve a ponta dos dedos, como se os acariciasse. O acaso deparou-lhe um atlas de anatomia; pousando então a ponta da unha rosada sobre o título, voltou-se para mim sorrindo:

— Quero ver o coração! Onde está?

E afastou-se enquanto eu folheava o atlas para mostrar-lhe a estampa que ela pedira. Esteve a olhar muito tempo; afinal murmurou: