se docemente à música das frases talvez apaixonadas que ele lhe dirigia, tive a coragem de arrancar-me a esse martírio. Refugiei-me no jardim.

Havia ali encostados à varanda, e nos intervalos das sacadas, uns bancos de pedra cobertos por dosséis de uma trepadeira qualquer. Nos dias de baile, D. Matilde fazia iluminar essa arcaria de verdura, que dava à casa um aspecto campestre.

Fumava sentado num desses bancos. De repente ouço a voz de Emília. Ela se recostara à janela próxima, e continuava com seu par uma conversa animada. A folhagem espessa me escondia aos olhos de ambos; porém eu os via perfeitamente no quadro iluminado da janela.

— Tudo isto, doutor, não é mais do que um desses bonitos discursos, de que o senhor tem o talento admirável...

— Então não me acredita? disse o Dr. Chaves.

— Não posso!... Em uma vida como a sua, tão cheia de glórias e ambições, o que resta para o amor?... As horas perdidas do baile!... Confesse!...

— Mas a senhora não sabe então, D. Emília, que estes curtos instantes em que a vejo são os únicos que vivo? O resto, o tempo que sobra à minha tão rápida felicidade, trabalho com entusiasmo, é verdade! Mas por quê? Porque trabalhar, para mim, é amar ainda, e elevar-me do pó, a fim de poder erguer os olhos para o céu sem ofendê-lo!