— Então lembrou-se de mim?
— Que remédio, se não lembrar-me? Procurei-o tantas vezes com os olhos, e não o vi!... Onde esteve o senhor todo este tempo?
— Pois deveras reparou em minha ausência, D. Emília? Juraria o contrário!
— Jurava falso! Se não fosse verdade, por que lho diria?
— Quem sabe?
— Quem melhor do que o senhor!
A voz de Emília nessa conversa era doce e meiga. Seu olhar macio acariciava-me com delícias. Em toda a sua pessoa derramava-se um celeste eflúvio de ternura, que manava de sua alma, e rorejava a flor nativa de sua ingênua altivez. Nunca eu a vira assim maviosa, nem mesmo nas horas em que estávamos sós.
— E não me quer dizer onde esteve? perguntou de novo com branda queixa.
— Estive jogando.
— O senhor?... o senhor que aborrece o jogo? Que lembrança foi esta?
— Aborreço o jogo, é verdade! É de todos os vícios o que mais revolve os instintos maus. Porém às vezes é necessário. Os venenos também são remédios... perigosos, sim... Quando não curam, matam.
— Queria esquecer-me! disse Emília com terna exprobração. — Ingrato!... Quando minha alma o chamava!...
Esta palavra exacerbou-me o coração:
— Para que, D. Emília? Para que me chamava