impossível resistir. Eu chegava; vinha com uma resolução firme de mostrar-lhe minha completa indiferença, e fazê-la acreditar que realmente amava Julinha.
Pois quando estava mais entregue a esse jogo do coração, e à força de falar de amor, eu me atordoava a ponto de supor que o sentia pela filha de D. Matilde; pois justamente nessa ocasião, Emília, não sei como, arrancava-me de perto da prima e arrastava-me a seus pés.
Bastava-lhe para isso um nada, um sorriso, uma doce inflexão do seu colo, um gesto gracioso da mão afilada brincando com um anel dos cabelos ou com uma fita do vestido.
Oh! Essa mão gentil, quando ela a despia da luva, tinha uma alma; movia-se em torno de sua beleza, como um anjo que descera do céu para acariciá-la. Aos toques suaves dos dedos mágicos parecia que sua lindeza debuxava-se mais brilhante.
E eu ficava sem palavra e sem movimento, todo olhar, a contemplá-la de longe.
Afinal, quando ela me via assim alheio de mim e cativo de sua graça, chamava-me com uma imperceptível vibração de fronte.
De ordinário, vendo-me chegar obediente, se demudava por tal forma que estupidava-me; era então fria e glacial, como uma estátua de gelo. Já não me via, nem me ouvia: eu voltava tragando em silêncio a minha vergonha.
Outras vezes, não: recebia-me risonha e amável.