em comprá-lo... E nem só comprá-lo; mas acenar, como os avarentos, com o seu dinheiro, para ter o prazer incompreensível de aviltar a turba de adoradores, entre os quais ela afinal escolherá um marido!... Um marido regateado!...

Emília soltou uma risada argentina; do alto de sua beleza mais que nunca altiva e radiosa atirou-me um olhar augusto. Ergueu-se, e não sei que elação deu ela com esse movimento ao seu talhe, que parecia subida a um trono.

Conservava-me de pé no mesmo lugar, com as costas apoiadas a uma árvore do jardim. Ela atravessou o espaço que nos dividia, e veio a mim feita em risos, com o passo tão doce e lento que resvalava sobre a areia, onde a orla de seu vestido mal roçava. Vendo-a aproximar-se tanto, retraí-me contra a árvore para não tocá-la.

Parou enfim: estendendo o lábio altivo, disse-me com uma voz indefinível, uma voz onde havia tudo, ódio e amor, desprezo e ternura, meiguice e sarcasmo; uma voz que parecia canto, grito e soluço ao mesmo tempo:

— Que é isso, senão amor?... Ama-me ainda e mais do que nunca!

Voltou; e agora a fímbria de seu vestido roçagando rojava pela areia, e ela olhava-a sorrindo por cima do ombro, e de propósito inclinava-se mais para enegrecê-la no pó, como se fora a minha alma abjeta que ela arrastasse assim pelo chão.

Firmei-me ao tronco da árvore com todas as