lado oposto chegavam-nos através das folhas e da sombra com uma suavidade extrema.

Mas essa doçura da tarde, a beleza de Emília, os perfumes das flores, tudo que havia de suave ali, irritava-me; eu tinha a alma ulcerada, e não havia bálsamos, senão cautérios, para cicatrizá-la.

Falei-lhe com volubilidade, travada do fel que borbotava do coração.

— D. Emília, nós estamos representando o papel de duas crianças, atormentando-nos um ao outro, e talvez servindo de tema à malignidade alheia. Ontem, a senhora cuida que não ouviram suas palavras?

— Que as ouvissem!... Foi o senhor mesmo quem se denunciou!...

— Já lhe disse e repito, D. Emília, eu não amo a senhora... Nunca a amei!...

— Mentiu-me, então?...

— Menti, confesso!...

— Creio antes que mente agora. A mentira é irmã do insulto.

— Desculpemo-nos mutuamente, D. Emília; ambos erramos; e para que estas cenas não se repitam, eu quero ser franco. A senhora me fez uma vez, há tempo, sua confissão: quer ouvir a minha?

— Fale! replicou Emília com um tom de ameaça.

— Eu não sou inteiramente pobre, mas também não sou rico, e tenho acima de tudo a ambição do dinheiro.