para mergulhar o resto do pescoço e o queixo no talho do vestido, e sumir as mãos no punho das mangas. Caminhando, dobrava as curvas a fim de tornar comprida a saia curta; sentada, metia os pés por baixo da cadeira.

Tinha um cuidado extremo em puxar para a frente as longas tranças do cabelo, que andavam sempre a dançar-lhe, como antolhos pelo rosto. Se lhe falava alguma pessoa de intimidade da família, não lhe voltava as costas como fazia com os estranhos; mas sentia logo uma necessidade invencível de coçar a cabeça, acompanhada por um repuxamento dos ombros. Eram modos de atravessar o braço diante do rosto e furtar o queixo, escondendo assim o que lhe restava de fisionomia.

Muitas vezes o Sr. Duarte zombava com terna ironia desses biocos da filha:

— Deixa estar, Mila!... dizia ele abraçando-a. — Vou mandar fazer para ti um saco de lã com dois buracos no lugar dos olhos.

Tal era Emília aos quatorze anos.

Entretanto, quem soubera a anatomia viva da beleza, conhecera que havia nessa menina feia e desengraçada o arcabouço de uma soberba mulher. O esqueleto ali estava: só carecia da encarnação.

Ainda me lembro da cólera infantil de Emília, quando, a primeira vez que estive com ela, eu a perseguia de longe chamando-a:

— Minha noiva!

— Feio!... dizia-me então.